O café, uma das bebidas mais consumidas do planeta, está ficando mais caro e a culpa não é só da mudança climática ou da geada no Brasil.
Um fator inusitado tem pesado no bolso dos consumidores: o durião, uma fruta asiática conhecida pelo cheiro forte e gosto marcante, agora também afeta o mercado global de café.
Com a valorização do durião no comércio internacional, especialmente na China, produtores de robusta no Vietnã estão trocando o cultivo do café por essa fruta mais lucrativa. Resultado? Estoques baixos, exportações em queda e preços dos grãos disparando.
A seguir, entenda como o durião virou peça-chave nesse quebra-cabeça econômico e o que isso revela sobre o futuro do café no mundo.

O que está por trás da alta do café
- Por que o café está mais caro?
Uma combinação de clima extremo, estoques baixos e migração de lavouras para o durião elevou os preços globais. - O que o durião tem a ver com isso?
Agricultores vietnamitas trocaram o café pelo durião, cinco vezes mais rentável no mercado chinês. - Quais países estão tentando suprir a demanda?
Colômbia, Etiópia, Uganda e Peru aumentaram exportações, mas não o suficiente. - Quem mais sofre com isso?
Cafeterias e consumidores finais, principalmente no Reino Unido e Europa, já sentem os reajustes. - O preço alto do café vai continuar?
Depende da próxima safra brasileira e das condições climáticas. Ainda há incerteza. - O preço do grão impacta o preço da xícara?
Pouco. Os grãos representam menos de 10% do preço final de um café vendido no varejo.
Agora que você já entendeu os fatores por trás da alta dos preços, veja como isso afeta o mercado, os produtores e o seu bolso a seguir.
A migração silenciosa: do café para o durião
Nos últimos anos, o Vietnã se consolidou como o maior produtor mundial de grãos robusta, essenciais para cafés solúveis e blends de baixo custo. Porém, a severa seca de 2024 levou muitos agricultores a buscarem alternativas mais resilientes e lucrativas, como o durião.
Com a demanda chinesa explodindo, o cultivo da fruta se tornou até cinco vezes mais rentável que o café. Isso fez com que muitos produtores substituíssem parte de suas lavouras, reduzindo drasticamente a oferta de café robusta.
Impacto direto nas exportações
Segundo a Organização Internacional do Café, as exportações de robusta do Vietnã caíram 50% em junho de 2024 em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Essa queda veio acompanhada de estoques quase esgotados, o que elevou os preços dos grãos a níveis quase recordes.
Por que o Brasil continua sendo peça-chave
Mesmo com a geada histórica de 2021, o Brasil ainda representa cerca de um terço da produção global de café arábica. A próxima colheita brasileira, prevista para a primavera, será determinante para os preços no segundo semestre de 2025.
Analistas alertam que, mesmo com redução das emissões, o aquecimento global pode reduzir em até 50% a área viável para cultivo de café até 2050.
Pressão nos preços, mas impacto limitado no varejo
Apesar dos grãos estarem mais caros, isso nem sempre reflete diretamente no valor da xícara. Segundo a consultoria Allegra Strategies, os grãos representam menos de 10% do custo final de um café servido.
Felipe Barretto Croce, CEO da FAF Coffees, aponta que os aumentos percebidos pelo consumidor são mais relacionados à inflação geral como aluguel e mão de obra, do que à matéria-prima.
Veja também: Como Fazer Seu Café Rende Mais: 7 Truques que Funcionam
Estratégias e apostas do setor cafeeiro
Com os preços instáveis e a produção em risco, cresce o debate em torno de soluções sustentáveis. Uma delas é o chamado “prêmio verde” — uma taxa extra embutida no preço do café que financia práticas regenerativas nas lavouras.
Essa iniciativa, já aplicada em alguns mercados premium, visa garantir a continuidade da produção em meio às mudanças climáticas e à migração de culturas.

E o consumidor? Vai pagar mais?
Especialistas alertam que, sem um alívio nas próximas safras, o preço de um café comum pode ultrapassar £5 no Reino Unido. Cafeterias que operam com contratos que estão por vencer terão que escolher entre absorver os custos ou repassá-los.
A tendência é que marcas premium ganhem espaço, já que o café de maior qualidade passa a ter melhor custo-benefício em comparação ao de menor qualidade, cujo preço aumentou mais.
A alta nos preços do café é um reflexo de uma cadeia complexa e interligada de fatores, do clima ao comércio internacional.
O durião pode parecer um vilão improvável, mas simboliza uma mudança mais profunda: a pressão por rentabilidade e resiliência está redesenhando o mapa agrícola global. Para quem ama café, isso significa estar atento não só ao sabor, mas ao que há por trás de cada xícara.