Uma queda de até 12% no preço do café pode ocorrer ainda em 2025. O motivo? Uma combinação entre a supersafra de grãos robusta e a nova tarifa imposta pelos EUA, que pode redirecionar parte da produção ao mercado interno. Especialistas em economia agrícola alertam que, embora o chamado “tarifaço” de Donald Trump não afete diretamente o consumidor brasileiro, ele reforça um movimento de desaceleração já iniciado e pode mudar o equilíbrio do mercado a médio prazo.
Dados recentes do IPCA-15 apontam que o café já caiu 0,36% em julho, registrando a primeira deflação em mais de 18 meses. E a expectativa é que os preços sigam em baixa, impulsionados pela colheita recorde de robusta, menos exportado aos EUA.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e analistas da StoneX apontam que a manutenção das tarifas poderá aumentar a oferta interna, pressionando os valores para baixo.
Esse contexto tem implicações diretas para produtores, exportadores e consumidores, com impacto que pode ser duradouro. Neste artigo, você entenderá os reais efeitos do tarifaço e por que o café brasileiro pode, sim, ficar mais barato em 2025.

1. O tarifaço de Trump: impacto direto e indireto para o Brasil
O anúncio da Casa Branca em julho de 2025 pegou o setor agrícola de surpresa. Donald Trump, em seu novo mandato, determinou uma tarifa de até 50% sobre produtos brasileiros, incluindo o café. Mas diferente do que muitos pensam, quem paga a conta são as empresas americanas importadoras, e não o consumidor brasileiro.
Por que isso importa?
Caso os importadores decidam reduzir compras do Brasil para evitar o custo adicional, haverá maior disponibilidade do produto internamente, um movimento que tende a forçar a queda dos preços no varejo nacional.
O café arábica, preferido pelos EUA, pode ser redirecionado a novos compradores ou ao consumo doméstico caso as exportações percam ritmo.
“A decisão dos EUA cria um ambiente de incerteza que pode beneficiar o consumidor brasileiro no curto prazo”, afirma Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic.
2. A supersafra de 2025: o principal fator por trás da queda de preços
Embora o tarifaço tenha acendido o alerta no setor, o verdadeiro motor da queda dos preços é outro: a previsão de uma supersafra de café robusta neste segundo semestre.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já preveem um aumento considerável na produção. O tipo robusta, geralmente usado em cafés solúveis e blends populares, não é o preferido pelos americanos, mas responde por uma fatia relevante do mercado interno.
Em julho, o café teve deflação de 0,36%, segundo o IPCA-15, revertendo 18 meses de alta constante.
A estimativa para 2025 é de uma produção recorde acima de 58 milhões de sacas, das quais 25 milhões são de robusta.
Com mais café disponível, o mercado passa a ter maior margem de negociação e os preços cedem. Isso pode se refletir nas gôndolas já nos próximos meses.
3. Exportações sob tensão: um equilíbrio delicado com o mercado americano
Os EUA são, historicamente, o maior comprador de café brasileiro, absorvendo cerca de 16% das exportações nacionais. Em contrapartida, o Brasil detém cerca de 30% do mercado cafeeiro dos EUA, segundo dados do Cecafé.
“A relação comercial é interdependente. Um tarifaço duradouro pode forçar uma reorganização de rotas e mercados”, alerta Marcos Matos, diretor do Cecafé.
O que está em jogo?
Se os EUA diminuírem suas compras de café do Brasil, novas nações podem entrar no jogo, como Alemanha, Japão e Coreia do Sul. O Brasil, nesse cenário, redirecionaria sua produção a outros destinos, mas parte pode ficar em casa, derrubando ainda mais os preços locais.
Esse realinhamento pode levar a um excedente interno de café arábica, pressionando tanto os preços quanto os lucros dos produtores.
4. Efeitos para o produtor: pressão nos lucros e riscos à sustentabilidade
Se, por um lado, o consumidor pode comemorar o café mais barato, os produtores enfrentam um cenário desafiador. A combinação de safra abundante com possível queda nas exportações reduz a margem de lucro, especialmente para pequenos agricultores.
Segundo Celírio Inácio, da Abic, há risco de desinvestimento no setor:
“Sem rentabilidade, o agricultor pode deixar de investir em renovação de lavouras ou adotar práticas sustentáveis, afetando a qualidade da produção futura.”
Especialistas como Fernando Maximiliano, da StoneX, projetam que, se as tarifas persistirem por mais de 6 a 12 meses, os reflexos serão mais severos, inclusive com possível retração de oferta em 2026.
5. O consumidor brasileiro sai ganhando… até quando?
A pergunta que fica é: por quanto tempo o café ficará barato? A resposta depende de variáveis que vão além do controle nacional:
- Durabilidade do tarifaço: uma medida temporária gera um alívio momentâneo; duradoura, muda completamente a dinâmica do mercado.
- Ajuste logístico e de exportação: redirecionar o café para outros países é viável, mas lento.
- Volatilidade cambial: o preço interno também responde às flutuações do dólar.
Em resumo: sim, o café pode ficar mais barato, mas esse alívio pode não durar até 2026 se a produção cair por falta de investimentos ou se os EUA recompuserem suas importações.
Café em baixa é boa notícia com alerta embutido
O consumidor brasileiro pode, sim, esperar um café mais barato nas próximas semanas e meses. A supersafra robusta somada à incerteza das exportações para os EUA cria uma janela de alívio no bolso. No entanto, o cenário não é livre de riscos. Se o preço cair demais e os produtores perderem rentabilidade, o futuro pode reservar escassez e preços mais altos.
Este é o momento ideal para aproveitar a qualidade do café brasileiro, enquanto dura.