Filtro IKEA para café: simples demais ou eficiente?

No universo dos cafés especiais, a técnica e o equipamento caminham lado a lado, mas será que o equipamento precisa ser caro ou sofisticado? Surpreendentemente, um funil doméstico da IKEA, modelo UPPFYLLD, usado como suporte improvisado de preparo, ganhou espaço em competições internacionais de baristas e chamou atenção pelo desempenho.

Ele transformou-se de utensílio comum de cozinha em método de extração oficial de torneios, levantando duas questões centrais: pode um método tão simples entregar uma xícara de qualidade comparável aos equipamentos tradicionais? E por outro lado, até que ponto o equipamento importa mais do que a técnica?

Logo no primeiro parágrafo respondemos: sim, é possível obter resultados expressivos com algo mínimo, desde que a técnica esteja bem aplicada. Mas o “simples” não significa “sem disciplina”: a moagem, a proporção, o controle de fluxo e a adaptação são cruciais.

Quer saber como esse filtro improvisado se comporta realmente, quais os testes já realizados, e se vale ou não investir nele? Acompanhe a seguir os detalhes podem surpreender você.

1. Da prateleira doméstica às competições de baristas

Um utensílio comum de plástico da IKEA foi levado para uma competição nacional de baristas na Indonésia pelo competidor que buscava algo disruptivo.

O funil foi adaptado para servir como porta-filtro (com suporte de papel adaptado), e conseguiu classificação entre os finalistas da Indonesia Brewers Cup (IBrC), chegando à sexta colocação. Isso confirmou que não só o método funcionou, como também gerou um debate intenso: “Quem leva mais peso: equipamento ou técnica?”

1.1 Contexto técnico

• O funil UPPFYLLD da IKEA é plástico resistente, suportando até cerca de 100 °C apropriado para a extração de café.
• A adaptação envolveu encaixar filtros de café (como os de cono ou planos) no funil, garantindo estabilidade e fluxo adequado.
• A comunidade especial de café reagiu com surpresa e curiosidade: o que era um utensílio banal se tornou ferramenta de inovação.

1.2 Impacto no cenário de cafés especiais

• O caso viralizou em fóruns e redes sociais, provocando análises de baristas sobre o que realmente determina qualidade de extração.
• Surgiram desafios e competições informais em que esse método “funil IKEA” era testado sem apelo estético, mas com foco em resultado.
• A narrativa reforça que equipamento caro não é condição indispensável para resultados de excelência, embora “menos equipamento” não signifique “menos rigor”.

2. Experimento comparativo: dois filtros, o mesmo funil

Para avaliar com precisão o comportamento desse método improvisado, foi realizado um teste prático no Brasil. O mesmo funil IKEA foi usado com dois tipos de filtro distintos para extrair o mesmo café-base, e os resultados foram comparados em perfil sensorial, tempo, moagem e fluxo.

2.1 Protocolo de teste

• Café: blend composto de bourbon amarelo e vermelho, perfil equilibrado (doçura, acidez, corpo).
• Quantidade de café: 20 g.
• Volume de água: 300 g, temperatura de 92 °C.
• Moagem: grossa (exemplo citado: clique 19 no moedor Timemore C2).
• Objetivo: comparar o efeito do tipo de filtro no mesmo portador improvisado (o funil IKEA).

2.2 Teste 1 – Filtro de cono (Tipo V60 nº 2)

Preparação:

• Adaptou-se o filtro de V60 nº 2 ao funil, abrindo levemente a costura lateral para melhor encaixe e fluxo.
• Utilizou-se jarra como suporte para controlar o fluxo instável do funil.

Etapas:

1. Pré-escaldo do filtro com água quente para eliminar resíduos.
2. Pré-infusão: 100 g de água em movimentos circulares. Fluxo lento foi observado, sinal de moagem adequada.
3. Pausa de 30 segundos.
4. Segunda adição até alcançar 200 g movimentos circulares.
5. Terceira adição até 300 g encerramento da percolação.

Resultados sensoriais:

• Acidez cítrica evidente; notas de frutas amarelas.
• Retrogosto de caramelo tostado.

Observação técnica:
Se a moagem estiver muito fina, o funil tende a travar o fluxo. Ajuste de moagem importante.

2.3 Teste 2 – Filtro plano (Tipo Kalita 155)

Preparação:

• O filtro plano Kalita 155 encaixou-se de forma mais natural no funil, sem necessidade de abrir costura ou fazer adaptações significativas.

Protocolo:

• Mesmo dose de café (20 g), água (300 g) e temperatura (92 °C).
• Tempo de extração obtido: 2 min 40 s (mais rápido que o V60).

Etapas:

• Pré-infusão: 60 g de água, cobrindo todo o pó, pausa de 30 segundos.
• Segunda adição: 170 g de água em círculos, promovendo quebra do “blooming”.
• Terceira adição: 145 g de água.
• Última adição até 300 g, encerrando a percolação.

Resultados sensoriais:

• Corpo mais encorpado, doçura intensa, menor acidez que no primeiro teste.
• Perfil mais redondo e aveludado, ideal para quem prefere equilíbrio em vez de acidez vibrante.

2.4 Lições do experimento

• O mesmo café, com mesmo equipamento-base (funil IKEA) e mesma temperatura/água, rendeu dois perfis diferentes apenas mudando o tipo de filtro.
• O fluxo de água e a moagem são influenciados dramaticamente pelo tipo de filtro e pela geometria do suporte de extração.
• Equipamento simples pode entregar qualidade, mas exige ajuste fino de técnica.
• A simplicidade do funil reforça: não é o “quanto caro” mas o “quanto preciso” que importa.

3. O que considerar antes de adotar este método

Se você está pensando em experimentar o funil IKEA para café ou adaptar um método improvisado, há três pilares fundamentais a cuidar e sim, não são sobre gastar muito dinheiro.

3.1 Grãos de qualidade

• A qualidade do café é a base: grãos bem selecionados, bem torrados e de origem confiável fazem a diferença.
• Mesmo o método mais simples revela muito mais quando o café tem características sensoriais definidas (acidez, corpo, notas de sabor).
• Um café medíocre dificilmente será salvo apenas pelo método, por mais engenhoso que ele seja.

3.2 Moagem feita no momento

• Um moedor decente (e moer na hora) preserva aromas voláteis e permite controlar a granulometria.
• No experimento citado, a moagem “grossa” foi essencial para evitar travamento no funil. Ajuste fino compensou o método menos convencional.
• Evite moer com antecedência ou usar uma moagem padrão: adapte ao seu método.

3.3 Técnica consistente

• Proporção café:água, temperatura, tempo de extração e fluidez da água, todos esses fatores importam.
• No funil IKEA, o fluxo pode se comportar de forma diferente de um sistema tradicional, isso exige que você monitore e ajuste.
• Técnica repetível é mais importante que equipamento sofisticado: medir, anotar e ajustar melhora os resultados.

3.4 Vantagens e limitações do método

Vantagens:

• Custo muito baixo comparado aos sistemas especializados.
• Flexibilidade para experimentar, adaptar filtros e ajustar.
• Demonstra claramente que técnica importa.

Limitações:

• Menos controle mecânico comparado a equipamentos premium.
• Possível instabilidade no fluxo, quando o filtro ou funil não foram adaptados corretamente.
• Não substitui necessariamente um sistema finamente calibrado para competição, mas pode certamente competir, como vimos.

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4. Vale a pena? A recomendação (e o que fazer)

No fim, após análise do caso e dos testes, podemos afirmar: sim, o método com funil IKEA é viável e eficiente, desde que bem aplicado, mas não é a “resposta mágica” para qualquer preparação de café.

Se você está começando ou quer experimentar algo fora do mainstream, aqui vai o caminho sugerido:

1. Invista em bons grãos, não economize nessa etapa.
2. Compre ou use um moedor confiável e ajuste a moagem de acordo com o método.
3. Experimente o funil IKEA ou outro suporte simples: trabalhe com paciência, registre dados, ajuste moagem, tempo, fluxo.
4. Se o método funcionar bem para você e entregar o perfil desejado, ótimo, continue. Se quiser mais refinamento, talvez explore sistemas tradicionais (como V60, KalitaWave, Chemex, etc).
5. Lembre-se: o método é apenas uma ferramenta. O objetivo é uma xícara saborosa, equilibrada, feita com atenção.

Para quem está no início da jornada no café especial, este experimento com o funil IKEA é um lembrete poderoso: você não precisa de todo equipamento caro logo de cara. Um bom café, técnica ajustada e curiosidade para experimentar são suficientes para transformar sua rotina.