Samo Bloom: pré-infusão morna muda o sabor do café?
Sim, a técnica Samo Bloom realmente altera o perfil sensorial do café. Testes controlados mostram que a pré-infusão com água morna, entre 55 °C e 70 °C, intensifica notas florais, suaviza a acidez e entrega um aroma mais limpo e complexo.
Ao contrário do método tradicional, onde a água entra em contato com o pó já em temperatura elevada, a técnica preserva compostos aromáticos voláteis que são facilmente dissipados com calor extremo. O resultado é uma bebida com mais definição, textura sedosa e maior equilíbrio.
A técnica ganhou notoriedade por meio do barista Lance Hedrick, com base em estudos do cientista Smerk, mas foi o campeão mundial Rubens Gardelli quem trouxe essa abordagem ao cenário competitivo global.
Testamos a técnica com um café Geisha e os resultados foram evidentes: mais florais, mais doçura e mais complexidade. A comparação direta com a extração convencional revelou uma mudança real na xícara.
Resumo imediato:
- A pré-infusão morna reduz a liberação agressiva de CO₂
- Aromas florais e cítricos são preservados com mais nitidez
- A doçura se destaca, com corpo cremoso e retrogosto limpo
- A técnica exige controle de temperatura e precisão
Mas será que essa técnica vale a pena no dia a dia? Ou ela faz sentido apenas em contextos de competição e cafés especiais?
Continue lendo para entender como aplicar a técnica corretamente, quando vale a pena utilizá-la e o que realmente muda na xícara. A resposta pode surpreender até os baristas mais experientes.

O Que é a Técnica Samo Bloom: Origens e Fundamentos Científicos
A técnica Samo Bloom propõe uma quebra de paradigma no preparo de café filtrado. Ao invés de iniciar a extração com água em torno de 90 °C, ela propõe uma etapa inicial de pré-infusão morna, entre 55 °C e 70 °C, justamente para preservar compostos voláteis extremamente sensíveis ao calor.
Origens
Embora popularizada pelo youtuber e barista Lance Hedrick, essa técnica foi utilizada com sucesso em nível competitivo por Rubens Gardelli, campeão mundial de torra e vice-campeão da World Brewers Cup. Em sua apresentação, Gardelli usou uma pré-infusão a 62 °C com um café Geisha de perfil floral e conseguiu manter compostos aromáticos normalmente perdidos na extração convencional.
Fundamento Químico
A água muito quente, ao entrar em contato com o café, provoca a liberação instantânea de gases, especialmente dióxido de carbono (CO₂). Esse “bloom” agressivo carrega consigo compostos aromáticos frágeis, resultando numa bebida com menos definição sensorial.
A pré-infusão com água morna controla essa liberação, permitindo:
- Maior retenção de florais e frutados
- Redução do impacto térmico inicial
- Extração mais controlada e equilibrada
Como Testamos a Técnica Samo Bloom: Parâmetros e Equipamentos
Para analisar os efeitos da técnica Samo Bloom, realizamos uma extração comparativa com metodologia controlada. Veja abaixo os parâmetros utilizados.
| Parâmetro | Detalhes |
|---|---|
| Café | Geisha (perfil floral/frutado) |
| Moagem | 1ZPresso K-Ultra |
| Método | Origami Dripper |
| Proporção | 20g de café / 300ml de água |
| Pré-infusão | 50ml a 62 °C por 40 segundos |
| Segunda e terceira fase | 150ml + 100ml a 92 °C |
| Tempo total de extração | 2min20 |
Observação: Utilizamos duas chaleiras elétricas com controle digital de temperatura para garantir precisão e agilidade entre as etapas.
Guia Prático: Como Fazer a Samo Bloom em Casa
Embora pareça técnico, aplicar a Samo Bloom no preparo doméstico é viável com os equipamentos certos. Veja o passo a passo abaixo:
Passo 1: Prepare o Setup
- Escalde o filtro e aqueça os utensílios
- Pese o café (20g recomendado) e moa no ponto médio para fino
Passo 2: Controle de Temperatura
- Aqueça 50ml de água a 62 °C
- Mantenha outra chaleira com 250ml a 92 °C
Passo 3: Inicie a Pré-Infusão
- Despeje 50ml a 62 °C sobre o café, cobrindo toda a cama
- Aguarde 40 segundos sem agitar
Passo 4: Complete a Extração
- Adicione 150ml de água a 92 °C em fluxo contínuo e circular
- Após uma breve pausa, despeje os 100ml restantes
Passo 5: Homogeneização
- Misture suavemente o café na jarra antes de servir
Comparativo Sensorial: Samo Bloom x Extração Convencional
A seguir, apresentamos as diferenças sensoriais perceptíveis na análise das duas xícaras.
| Critério | Samo Bloom | Extração Convencional |
|---|---|---|
| Aroma | Floral intenso, notas de jasmim e flor branca | Floral apagado, vapor agressivo |
| Doçura | Elevada e imediata | Presente, mas menos evidente |
| Acidez | Frutada e equilibrada | Mais aguda e menos controlada |
| Retrogosto | Limpo, persistente e floral | Frutado, mas com menor complexidade |
| Corpo | Textura cremosa e sedosa | Consistente, porém menos refinada |
| Complexidade | Alta | Média |
| Experiência geral | Elegante e delicada | Boa, mas menos expressiva |
Conclusão do Teste
A técnica não apenas altera nuances, ela transforma completamente a bebida. A Samo Bloom extrai com mais delicadeza, respeitando as características do grão. O resultado é uma xícara mais limpa, elegante e sensorialmente rica.
Quando Vale a Pena Usar a Técnica Samo Bloom?
Embora a técnica funcione bem, sua aplicação prática depende de alguns fatores.
Quando Usar:
- Cafés com perfil floral, frutado ou cítrico
- Grãos especiais como Geisha, SL28, Bourbon Rosa
- Competições e provas sensoriais
- Preparo com maior controle e intenção
Quando Evitar:
- Cafés de torra escura (perfil achocolatado ou caramelizado)
- Métodos que não permitem controle preciso de temperatura
- Preparo rápido no dia a dia, sem equipamentos adequados
Aprenda Mais: Como não errar no café: moagem, água e proporção
Equipamentos Necessários para Executar a Técnica com Precisão
| Equipamento | Função |
|---|---|
| Duas chaleiras elétricas | Controle independente de temperatura |
| Moedor de precisão | Moagem uniforme e ajustável |
| Balança digital | Controle de proporção |
| Termômetro (opcional) | Verificação de temperatura das águas |
| Jarro de decantação | Homogeneização antes do serviço |
Singularidades Não Abordadas Comumente: Samo Bloom e a Retenção de CO₂
Um efeito pouco comentado é a retenção do dióxido de carbono na cama de café durante a pré-infusão morna. Como o CO₂ não é expulso de maneira agressiva, sua presença atua como uma barreira temporária, protegendo os compostos voláteis do impacto térmico posterior. Isso contribui diretamente para a intensidade aromática percebida posteriormente na bebida.
Samo Bloom no Contexto Profissional: Competição vs Rotina
Baristas e competidores que buscam excelência sensorial têm na Samo Bloom uma aliada poderosa. Em contextos como a Brewers Cup, onde os jurados avaliam delicadeza, clareza de notas e equilíbrio, essa técnica oferece uma vantagem estratégica.
Para o consumidor doméstico, entretanto, é necessário ponderar entre praticidade e ganho sensorial. Se o objetivo é elevar a experiência e destacar cafés especiais, a técnica se justifica.
A Técnica Samo Bloom Realmente Vale a Pena?
Sim, para quem busca excelência e está disposto a investir em controle e precisão, a técnica Samo Bloom é transformadora. Ela potencializa aromas delicados, amplia a complexidade da xícara e entrega uma experiência sensorial mais refinada.
Para o cotidiano, talvez seja uma escolha mais pontual. Mas o conhecimento da técnica e sua aplicação ocasional em cafés excepcionais pode ser o diferencial entre um bom café e uma experiência inesquecível.


