V60 ou Melitta: qual coador entrega melhor extração?
Se você é apaixonado por café e começou a explorar o universo dos métodos filtrados, provavelmente já se deparou com a dúvida: afinal, qual coador prepara o melhor café, o Hario V60 ou o Melitta?
De um lado está o Melitta, tradicional e presente na maioria das casas brasileiras, conhecido pela praticidade e consistência. Do outro, o V60, um símbolo da cultura do café especial, reconhecido por oferecer maior controle na extração e destacar as notas sensoriais com precisão.
A resposta direta? Depende do seu objetivo e do perfil de sabor que você busca. O Melitta oferece conforto e estabilidade. O V60 entrega liberdade e refinamento técnico. Mas entender o porquê dessas diferenças é o que realmente muda sua forma de preparar café.
A seguir, você vai descobrir como o design, o fluxo da água, a moagem e a técnica influenciam o sabor final. E talvez se surpreenda ao perceber que o “melhor café” pode vir de qualquer um dos dois, desde que você saiba como extrair o melhor deles.

1. De onde vêm os dois métodos
1.1 O nascimento do Melitta
O Melitta é um método histórico. Criado na Alemanha no início do século XX, surgiu a partir da ideia de uma mulher, Melitta Bentz, que buscava uma maneira mais limpa e prática de coar café. O sucesso foi tão grande que a marca se tornou sinônimo de café filtrado no mundo inteiro.
Sua principal característica sempre foi a simplicidade de uso. Com formato de base plana e um pequeno furo central, ele foi projetado para garantir uma boa extração mesmo sem técnica refinada, ideal para o consumo cotidiano.
1.2 A criação do V60
Décadas mais tarde, o Japão trouxe uma nova filosofia ao café filtrado. A Hario desenvolveu o V60, cujo nome vem do formato em “V” e do ângulo de 60 graus das paredes do cone.
O método conquistou baristas e cafeterias de todo o mundo por permitir precisão e controle total sobre a extração. O V60 é, essencialmente, uma ferramenta de experimentação: cada detalhe moagem, temperatura, tempo, fluxo altera o resultado final na xícara.
1.3 Filosofias diferentes
Enquanto o Melitta foi feito para oferecer praticidade e consistência, o V60 nasceu para proporcionar expressão e personalização. E é justamente essa diferença de propósito que explica por que o sabor do café varia tanto entre os dois.
2. Anatomia e funcionamento: o design que muda tudo
2.1 Como funciona o Melitta
O Melitta possui uma base mais plana e um único orifício pequeno no centro. Essa combinação reduz o fluxo da água, o que prolonga o tempo de contato com o café moído.
Internamente, apresenta ranhuras verticais que impedem o filtro de grudar nas paredes, permitindo que o ar e a água circulem melhor. O resultado é uma extração mais lenta e constante, mesmo que o usuário despeje a água sem grande técnica.
O que isso significa na prática:
- Maior tempo de contato gera uma bebida com mais corpo e doçura.
- A extração tende a ser mais “uniforme”, mesmo com erros leves de técnica.
- É um método indulgente: difícil errar, fácil acertar.
2.2 Como funciona o V60
O V60, por sua vez, tem um formato cônico perfeito, com ângulo de 60 graus e um furo central bem mais largo.
Suas ranhuras em espiral criam canais que orientam o fluxo da água e garantem que o café seja extraído de forma limpa e uniforme. Por permitir passagem livre, o fluxo depende quase totalmente da sua moagem e da maneira como despeja a água.
Em resumo:
- Maior abertura → fluxo rápido e extração mais sensível à técnica.
- Cada variável (moagem, fluxo, tempo) altera o resultado.
- O V60 recompensa quem busca controle e refinamento.
2.3 Comparativo direto
| Característica | Melitta | V60 |
|---|---|---|
| Formato | Base plana, um furo pequeno | Cone em “V” com ângulo de 60° |
| Fluxo da água | Lento e constante | Livre e ajustável |
| Tempo de extração | Mais longo | Mais curto (dependente da técnica) |
| Perfil sensorial | Corpo mais intenso, notas doces e arredondadas | Sabor limpo, acidez mais viva, aroma destacado |
| Tolerância técnica | Alta – fácil de usar | Baixa – exige precisão e prática |
3. Teste sensorial: o sabor em cada método
Para entender como cada coador influencia o café, foram testados dois tipos de grãos, um com perfil frutado e outro mais encorpado, utilizando a mesma receita base.
Receita aplicada:
- 20 g de café moído médio-grosso
- 240 g de água a 92 °C
- Três despejos: 40 g (pré-infusão), depois dois de 100 g
3.1 Resultado com café frutado
- V60: acidez marcante e viva, notas de frutas amarelas, corpo leve e final limpo.
- Melitta: corpo denso, acidez suave, sabor mais redondo e caramelizado, com presença de óleos na superfície.
3.2 Resultado com café encorpado
- V60: equilíbrio entre acidez e doçura, final delicado e limpo.
- Melitta: corpo robusto, notas tostadas, leve amargor de caramelo queimado.
Conclusão sensorial:
O V60 destaca a acidez e a clareza aromática, enquanto o Melitta reforça o corpo e a doçura. Ambos extraem bem, mas entregam experiências diferentes de um mesmo grão.
4. Dicas técnicas para dominar cada método
4.1 Como extrair melhor no Melitta
- Moagem: use moagem média-grossa. Moagens finas retardam o fluxo e causam amargor.
- Filtro: dobre as abas laterais corretamente para evitar bloqueios de passagem.
- Despejo: não se preocupe com movimentos circulares rigorosos, o furo pequeno já equilibra o fluxo.
- Tempo total: entre 3 min 30 s e 4 min é ideal para equilíbrio entre corpo e doçura.
Indicado para:
Quem deseja praticidade, café com sabor intenso e boa consistência mesmo com preparo rápido.
4.2 Como extrair melhor no V60
- Moagem: varie entre média e média-fina. Ajuste conforme o tempo total, extrações muito rápidas podem resultar em acidez excessiva.
- Despejo: utilize movimentos circulares controlados, sempre do centro para as bordas.
- Pré-infusão: despeje 40 g de água e espere 30 segundos para liberar gases e preparar o pó.
- Controle de tempo: idealmente entre 2 min 30 s e 3 min.
Indicado para:
Quem gosta de testar proporções, temperaturas e moagens, buscando cafés com acidez clara e perfil limpo.
4.3 Erros comuns que prejudicam a extração
| Erro | Efeito | Solução |
|---|---|---|
| Moagem muito fina no Melitta | Fluxo lento, amargor | Aumente a granulação |
| Água muito quente | Amargor e adstringência | Use entre 90 °C e 94 °C |
| Despejo muito rápido no V60 | Subextração, sabor “rala” | Diminua o fluxo e divida em despejos |
| Pouca pré-infusão | Café sem aroma e corpo irregular | Espere 30 s antes da segunda adição de água |
5. V60 vs. Melitta: quando escolher cada um
5.1 O Melitta é para você se:
- Prefere simplicidade e constância.
- Busca corpo e doçura maiores no café.
- Quer praticidade no dia a dia sem perder qualidade.
- Não quer investir em técnicas avançadas.
5.2 O V60 é para você se:
- Gosta de explorar nuances sensoriais e ajustar variáveis.
- Tem curiosidade em entender o impacto da moagem e do tempo na extração.
- Prefere cafés com acidez mais evidente e final limpo.
- Deseja maior precisão e controle sobre o resultado.
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5.3 Custos e acessibilidade
| Critério | Melitta | V60 |
|---|---|---|
| Preço médio | R$ 15 a R$ 30 | R$ 80 a R$ 150 |
| Curva de aprendizado | Rápida | Moderada a longa |
| Versatilidade | Alta | Muito alta |
| Manutenção | Fácil | Fácil |
6. Conclusão: o melhor coador é o que combina com você
Não existe um “vencedor absoluto” entre o V60 e o Melitta. Ambos entregam excelente café, desde que utilizados corretamente.
O Melitta oferece conveniência, previsibilidade e sabor encorpado, perfeito para o café de todos os dias. Já o V60 abre portas para experimentação e precisão, ideal para quem deseja ir além e descobrir o verdadeiro potencial de um grão especial.
A melhor maneira de decidir? Prepare o mesmo café em ambos os métodos e compare.
Você vai perceber como o design de cada coador traduz o mesmo grão de forma completamente diferente e isso, por si só, é o encanto do café filtrado.


