Vandola: o método artesanal para café coado da Costa Rica
A Vandola é um método artesanal de preparo de café originário da Costa Rica, conhecido por unir tradição, design manual e uma extração suave que valoriza cafés especiais.
Inspirada diretamente no antigo coador de pano utilizado nas casas costa-riquenhas, a Vandola evoluiu para um utensílio de cerâmica cuidadosamente moldado, capaz de entregar uma bebida equilibrada, aromática e com clareza sensorial notável.
Diferente de métodos mais difundidos, como V60 ou Chemex, a Vandola utiliza uma câmara de cerâmica aquecida e um fluxo de percolação particular, preservando a doçura natural do grão e ampliando a percepção de corpo.
Seu diferencial está na combinação entre três fatores: retenção térmica elevada, fluxo constante e um desenho funcional que equilibra tradição e modernidade. Isso permite controlar variáveis importantes, como tempo de extração, taxa de fluxo e intensidade aromática. Para quem deseja extrair cafés especiais com fidelidade de sabor, entender a Vandola muda completamente a experiência de preparo.
Neste artigo você encontrará: a origem histórica da Vandola, suas características técnicas, como utilizá-la da forma correta, dicas avançadas de manutenção e razões sensoriais que fazem esse método se destacar entre baristas e apreciadores de cafés especiais.
A Vandola pode parecer simples à primeira vista, mas sua construção artesanal esconde nuances importantes que influenciam diretamente o resultado na xícara. E é justamente quando analisamos esses detalhes que percebemos por que o método conquistou espaço no Brasil e se tornou uma peça desejada também por colecionadores. A partir daqui, entramos nas camadas mais profundas de sua história, técnica e uso especializado.
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A evolução da Vandola: da tradição doméstica ao método de excelência
A Vandola não surgiu como um projeto industrial ou como uma adaptação de métodos já consagrados. Sua origem está ligada à cultura doméstica da Costa Rica, onde preparar café com coador de pano era um ritual diário muito antes do boom dos cafés especiais.
O processo, chamado localmente de café churriado, consistia em fixar um pequeno saco de pano em um suporte de madeira, no qual a água quente era despejada manualmente sobre o café.
O que motivou artesãos costa-riquenhos a desenvolver a Vandola foi a necessidade de incorporar a sensibilidade do coador de pano em uma peça mais durável, mais higiênica e compatível com filtros de papel.
O resultado foi um recipiente de cerâmica com gargalo longo, parede espessa e bico anatômico, que não apenas facilitou o ato de servir como também permitiu controlar melhor a temperatura durante a extração.
Embora tenha surgido originalmente para uso em cafeterias especializadas da Costa Rica por volta de 2015, a Vandola rapidamente ultrapassou fronteiras. Sua estética artesanal chamou atenção de baristas internacionalmente, que viram nela uma oportunidade de explorar novas possibilidades de sabor sem abandonar a ritualística tradicional do preparo manual.
No Brasil, artesãos como Zora Paiva contribuíram de forma significativa para a disseminação do método, criando versões adaptadas ao estilo brasileiro de cerâmica e ao gosto local. Essa adaptação, sem romper com a essência da peça, enriqueceu a cultura do café artesanal no país.

Características estruturais da Vandola que influenciam a extração
A Vandola une forma e função de maneira quase inseparável. Cada aspecto do seu design interfere diretamente na qualidade do café preparado. A seguir, exploramos essas características em profundidade.
1. Cerâmica de alta densidade
A escolha da cerâmica não é apenas estética. A densidade da argila, aliada ao processo de queima, determina a retenção térmica e o comportamento do calor interno durante a extração. Materiais mais porosos dispersam calor rapidamente, enquanto versões mais densas mantêm a temperatura estável, permitindo extrações mais consistentes.
A cerâmica também evita interferências metálicas no sabor, mantendo a pureza aromática do café.
2. Gargalo com frisos
Os frisos internos presentes no gargalo ajudam a estabilizar o filtro de papel e influenciam o fluxo da água que atravessa o leito de café. Eles evitam que o filtro grude nas paredes internas, permitindo uma passagem de ar mais uniforme e reduzindo o risco de canalização.
3. Orifício de liberação de vapor
A pequena perfuração próxima ao gargalo serve para liberar vapor acumulado dentro da Vandola durante o processo de aquecimento e extração. Uma peça sem esse detalhe tende a gerar excesso de pressão interna, prejudicando o fluxo da bebida.
4. Bico de vertimento ergonômico
O bico alongado facilita o serviço e reduz respingos, mas sua função vai além: ele preserva a integridade da crema natural de cafés recém extraídos e permite homogeneizar a bebida antes do serviço, garantindo consistência no sabor da primeira à última xícara.
5. Compatibilidade com filtros de papel
Embora inspirada no coador de pano, a Vandola foi pensada para funcionar perfeitamente com filtros cônicos, especialmente os utilizados no método V60. Essa compatibilidade melhora a claridade sensorial e facilita a limpeza e a manutenção da peça.
Entendendo a influência do design na bebida final
O design artesanal da Vandola não se limita ao visual. Ele altera parâmetros físicos do processo de extração, como retenção de calor, turbulência e velocidade de percolação. A seguir, alguns dos efeitos diretos percebidos na xícara:
| Elemento da Vandola | Efeito na extração | Resultado sensorial |
|---|---|---|
| Cerâmica espessa | Retém calor por mais tempo | Corpo equilibrado e acidez estável |
| Frisos internos | Mantém fluxo constante | Menos amargor e mais dulçor |
| Orifício de vapor | Reduz pressão interna | Extração uniforme |
| Bico anatômico | Homogeneização da bebida | Consistência do sabor |
| Uso com filtro V60 | Filtra sedimentos finos | Claridade aromática |
Cada elemento contribui para uma bebida mais limpa, com dulçor elevado e textura mais redonda.
Guia técnico: como preparar café na Vandola com precisão profissional
A seguir, um passo a passo detalhado que contempla não apenas a execução, mas também o raciocínio técnico por trás de cada etapa.
Ingredientes e equipamentos recomendados
- Vandola de cerâmica
- Filtro de papel cônico
- 30 g de café especial moído em moagem média a grossa
- 330 ml de água entre 90 e 94 graus Celsius
- Balança digital
- Cronômetro
- Jarro para aquecer água
- Colher longa para homogeneizar
1. Pré-aquecimento da cerâmica
A cerâmica fria absorve calor rapidamente, alterando a curva térmica da extração. Ao despejar água quente na Vandola antes do preparo, você garante estabilidade térmica e preserva compostos aromáticos sensíveis à temperatura.
2. Nivelamento do café
Depois de descartar a água de pré-aquecimento, adicione o café moído e nivele a superfície. Uma superfície uniforme reduz canalização e ajuda a manter a simetria durante a infusão.
3. Pré-infusão controlada
Despeje cerca de 60 ml de água em movimentos circulares. Esse processo libera gases acumulados pela torra e facilita a penetração da água no leito, resultando em uma extração mais homogênea.
4. Vertimento em etapas
A adição da água deve ser fracionada e contínua. Movimentos circulares suaves permitem controlar a turbulência sobre o leito, influenciando diretamente o corpo da bebida.
5. Finalização
Após o término da percolação, remova o filtro e homogeneize a bebida girando suavemente a Vandola. Esse gesto distribui uniformemente as camadas de sabor.
A química por trás da extração na Vandola
Embora visualmente simples, a Vandola altera o comportamento químico da extração. Com a cerâmica funcionando como um estabilizador térmico, compostos voláteis se preservam com mais eficiência. Isso inclui ésteres frutados, aldeídos que intensificam notas cítricas e cetonas que realçam a doçura.
A combinação entre filtro cônico e fluxo constante evita a extração excessiva dos ácidos clorogênicos responsáveis pelo amargor indesejado.
Milimetria sensorial: como ajustar seu preparo conforme o café utilizado
Nem todo café responde da mesma forma ao método. A seguir, recomendações conforme o perfil do grão:
Cafés frutados
- Utilize moagem ligeiramente mais grossa
- Prefira temperaturas entre 92 e 94 graus
- Vertimentos mais espaçados preservam aromas voláteis
Cafés com notas de chocolate ou castanhas
- Temperatura entre 90 e 92 graus
- Vertimento contínuo para aumentar corpo
Cafés mais ácidos
- Moagem mais grossa
- Evite turbulências excessivas
Manutenção especializada: preservando sua Vandola
Por ser feita de cerâmica artesanal, a Vandola exige cuidados específicos.
Limpeza
- Lave imediatamente após o uso, evitando acúmulo de óleos do café
- Utilize escovas longas para alcançar o interior
- Não use abrasivos, que podem danificar o esmalte
Armazenamento
- Mantenha a peça em local seco e arejado
- Evite empilhamentos que possam pressionar o gargalo ou o bico
- Se possível, armazene longe de fontes externas de calor, que podem expandir ou trincar a cerâmica
Por que a Vandola se destaca entre baristas e apreciadores
A Vandola oferece uma combinação rara: simplicidade estética com precisão técnica. Ela preserva o ritual manual do preparo, mas permite controle suficiente para extrair cafés especiais com fidelidade sensorial. É ao mesmo tempo um utensílio funcional e uma peça decorativa que agrega valor cultural.
Entre seus principais diferenciais sensoriais:
- Doçura mais acentuada
- Textura aveludada
- Acidez estabilizada
- Aromas mais nítidos
- Corpo médio e equilibrado
A Vandola representa um marco entre os métodos artesanais de café, um elo entre passado e presente. Seu design, embora simples à primeira vista, é resultado de um refinamento técnico que valoriza tanto o ritual quanto a bebida final.
Ao utilizá-la corretamente, você não apenas prepara café; você vivencia uma tradição que atravessa gerações. E como todo método que nasce de culturas profundamente ligadas ao café, a Vandola convida o apreciador a desacelerar, observar e redescobrir nuances que muitas vezes passam despercebidas em processos automatizados.


