Uma tecnologia 100% nacional está prestes a transformar radicalmente o modo como os grãos de café são avaliados no Brasil.
Desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), em colaboração com a startup OptikAI, o novo sistema utiliza luz, sensores e inteligência embarcada para classificar grãos de café com precisão superior a 95% em apenas 3 segundos. E o melhor: com baixo custo e operação simples, mesmo para pequenos produtores.

Segundo os desenvolvedores, o dispositivo já foi testado com sucesso em ambientes industriais e agrícolas. Com o apoio da FAPESP e da Embrapii, o projeto se destaca não apenas pela rapidez, mas por eliminar a subjetividade típica da tradicional “prova do cafezinho”, padronizando os resultados com base em dados mensuráveis.
Essa inovação é possível graças ao uso de sensores de cor RGB, LEDs controláveis e um microcontrolador inteligente, que interpretam as variações de coloração nos grãos crus (não torrados) para determinar sua espécie, qualidade e nível de maturação.
O fim da avaliação subjetiva: um novo padrão para cafés especiais
Durante décadas, a classificação dos grãos de café baseou-se em análises sensoriais, aroma, sabor, textura feitas por especialistas.
Embora eficazes, essas avaliações são influenciadas pela experiência individual e pelo paladar de cada avaliador. Isso compromete a padronização, principalmente em grandes volumes ou exportações.
A nova tecnologia desenvolvida pela USP muda esse paradigma. Em vez de contar com o olfato e paladar, ela analisa a cor dos grãos com sensores de alta precisão, utilizando luz branca emitida por LEDs controlados eletronicamente. A luz refletida é captada por sensores RGB, que identificam os tons de forma objetiva e uniforme.
Por que isso é importante?
Porque espécies como arábica e robusta (ou conilon) possuem diferenças sutis na coloração dos grãos crus. Até agora, essa distinção era feita com base em observação visual, o que gerava margem para erros e prejuízos.
“Com essa solução, eliminamos a variação entre provadores e criamos um padrão técnico confiável”, explica um dos engenheiros do projeto.
Precisão técnica com giro automatizado: visão completa do grão
Uma das inovações mais surpreendentes do aparelho está no motor interno que gira as amostras, garantindo que os grãos sejam analisados por todos os ângulos. Isso assegura resultados consistentes, mesmo que os grãos estejam em posições irregulares.
Esse recurso torna o equipamento especialmente útil em ambientes industriais ou cooperativas, onde a agilidade e padronização das análises são cruciais. Em poucos segundos, o sistema coleta dados, processa e entrega um diagnóstico visual ou numérico com indicadores de:
- Espécie do grão (arábica ou robusta)
- Nível de maturação
- Possíveis defeitos ou danos
- Indícios de má armazenagem
A rotação automatizada é um diferencial decisivo para quem lida com grandes volumes e precisa de precisão constante, lote após lote.
Baixo custo e uso direto no campo: democratização da qualidade
Diferentemente de grandes sistemas laboratoriais, essa inovação tem foco no uso prático e acessível. O dispositivo foi desenvolvido com componentes simples e baratos, como LEDs, sensores ópticos e microcontroladores de baixo consumo.
Isso permite que pequenos e médios produtores também tenham acesso à tecnologia, eliminando a dependência de laboratórios externos ou especialistas contratados.
A portabilidade do equipamento abre espaço para aplicações diretamente no campo, em galpões de secagem ou centros de coleta.
“A expectativa é que o dispositivo seja comercializado por valores acessíveis, estimulando a profissionalização da cadeia produtiva do café”, afirma a OptikAI.
Mas os impactos vão além do campo. O uso da tecnologia pode influenciar diretamente as exportações, certificações e até a rastreabilidade do produto brasileiro.
Rastreabilidade, certificações e exportações: impactos no mercado global
Em mercados exigentes como União Europeia, Japão e Estados Unidos, certificações de origem e rastreabilidade são diferenciais competitivos essenciais. A capacidade de provar a origem e qualidade do café com base em dados objetivos é um grande trunfo.
O sistema desenvolvido pela USP oferece indicadores auditáveis e padronizados, facilitando o processo de certificação e agregando valor à marca do produtor.
Ele também contribui para a construção de bancos de dados sobre a produção, facilitando estudos de melhoria contínua, controle de qualidade e exportação segmentada. A rastreabilidade pode beneficiar o consumidor final, que deseja saber de onde veio o café, como foi tratado e por que ele é especial.
Você já pensou em quanto o seu café favorito pode ser valorizado por uma análise técnica e rastreável?
Inovação com DNA brasileiro a serviço da excelência do café
A nova tecnologia desenvolvida pelo IFSC/USP, em parceria com a OptikAI, representa um salto de inovação e acessibilidade no setor cafeeiro. Ao unir precisão científica, agilidade e custo acessível, o sistema inaugura uma nova era para a classificação objetiva dos grãos, especialmente os crus.
Sua capacidade de distinguir entre espécies, indicar qualidade e detectar defeitos em segundos sem intervenção humana subjetiva coloca o Brasil na vanguarda global da automação no agro.
Com ciência, simplicidade e dados, o café brasileiro se prepara para atingir um novo patamar de reconhecimento mundial.