Enquanto os Estados Unidos impõem uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro, a China abre as portas para 183 empresas nacionais com uma autorização válida por cinco anos.

A liberação foi oficializada pela embaixada chinesa no Brasil e passou a valer no último dia 30 de julho, criando uma nova rota comercial estratégica para um dos principais produtos de exportação do país.

A decisão chinesa vem em resposta indireta à escalada protecionista do governo Trump, que atinge em cheio um setor que movimenta mais de US$ 4,4 bilhões anuais apenas com o mercado norte-americano. Em junho de 2025, por exemplo, o Brasil exportou 440 mil sacas de café aos EUA, enquanto para a China, foram apenas 56 mil no mesmo período.

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Ao permitir a entrada de mais de 180 novas empresas, o governo chinês sinaliza que quer ampliar significativamente seu consumo interno de café, que já vem crescendo de forma exponencial nos últimos anos. Para o produtor e exportador brasileiro, trata-se de uma janela de oportunidade geopolítica e comercial sem precedentes.

A seguir, você entenderá como essa liberação pode redefinir o mapa das exportações de café, o impacto da tarifa dos EUA e o potencial real da China como novo polo consumidor da bebida mais amada do Brasil.

Qual a taxa de importação dos EUA para o Brasil
Imagem Representativa

1. O novo mercado: por que a china pode ser a virada de chave do café brasileiro

A China já é o maior parceiro comercial do Brasil, mas historicamente ainda não ocupava papel de destaque no consumo de café. Esse cenário, no entanto, está mudando.

Um mercado em plena expansão

Segundo dados recentes da Organização Internacional do Café (OIC), o consumo da bebida no território chinês cresceu mais de 500% na última década, impulsionado principalmente pelo público jovem das grandes cidades. Marcas globais e cafeterias independentes vêm se espalhando rapidamente por metrópoles como Xangai, Pequim e Shenzhen.

Em 2024, o consumo per capita de café na China ultrapassou 2 kg por ano, o que ainda é modesto se comparado ao Brasil (6 kg) ou à Europa (mais de 9 kg). Mas o potencial de escala é colossal.

Com a liberação para 183 empresas brasileiras exportarem para a China até 2030, estima-se que o volume de sacas embarcadas pode quadruplicar nos próximos dois anos, segundo projeções internas da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café).

Exemplo real: o salto da indústria vinícola australiana

Algo semelhante aconteceu com o vinho australiano há dez anos, quando a China derrubou tarifas e criou acordos bilaterais. Em cinco anos, os vinhos da Austrália passaram de nicho para liderarem o mercado premium chinês. O café brasileiro pode seguir essa trilha, mas com ainda mais escala.

2. Impacto do tarifaço dos eua: ameaça real ou oportunidade disfarçada?

O anúncio da nova tarifa de 50% sobre o café brasileiro pelo governo norte-americano caiu como uma bomba no setor. Principalmente porque os EUA absorvem cerca de um terço das exportações brasileiras de café, o equivalente a milhões de sacas por ano.

O que está em jogo

Em números concretos:

  • O Brasil exportou 440 mil sacas de café aos EUA só em junho de 2025
  • Isso representou quase US$ 370 milhões em faturamento no mês
  • Com a nova taxa, o preço final ao consumidor americano deve subir até 30%

Com isso, muitos importadores dos EUA devem buscar origens alternativas mais baratas, como Colômbia, Vietnã ou Etiópia. Isso pressiona o café brasileiro a buscar novos mercados imediatamente.

E é aqui que a China se torna a rota de escape mais estratégica e viável, especialmente após sua recente liberação massiva de exportadoras brasileiras.

3. O plano da china: por que o país quer o café do brasil agora

A liberação de 183 empresas não é um gesto simbólico: faz parte de uma estratégia comercial bem definida da China.

O que a China ganha com isso?

  • Diversificação de fornecedores: Menor dependência de países como o Vietnã, que ainda lidera as exportações para o mercado chinês
  • Acesso a cafés especiais e sustentáveis: O Brasil é líder mundial na produção de cafés com certificação socioambiental
  • Estabilidade na cadeia de suprimentos: A produção brasileira é menos suscetível a conflitos geopolíticos ou climas extremos do que outras origens

Com a escalada de tensões comerciais entre China e EUA, Pequim busca estreitar laços com economias aliadas, e o Brasil está estrategicamente posicionado nesse novo xadrez global.

O que isso significa para o Brasil?

Se bem aproveitada, essa abertura pode representar um reposicionamento do café brasileiro no mercado asiático, com ganho de margem, acesso a novos consumidores e possibilidade de agregar valor à exportação com cafés premium, fermentados e de origem controlada.

Confira também: 7 ajustes simples que deixam seu café mais saboroso e menos amargo em 2025

4. O que as empresas brasileiras precisam fazer agora

Embora a liberação seja uma vitória importante, ela não garante o sucesso automático das exportadoras. Há três passos cruciais para transformar essa abertura em faturamento concreto.

1. Adaptar embalagens e marketing ao consumidor chinês

O público chinês valoriza design, narrativa e símbolos culturais. Embalagens com escrita local, QR Codes com rastreabilidade e storytelling de fazendas ganham mais espaço nas prateleiras.

2. Fortalecer parcerias logísticas e distribuição local

A exportação direta nem sempre é a melhor saída. Ter distribuidores confiáveis na China, com canais bem estabelecidos em e-commerce e varejo físico, pode acelerar a penetração de mercado.

3. Investir em cafés de valor agregado

A China tende a consumir menos volume, mas com maior disposição para pagar por qualidade. Linhas de cafés especiais, microlotes e produtos voltados ao consumo premium fazem mais sentido no contexto chinês do que commodities tradicionais.

Sua empresa já está preparada para atender um mercado exigente como o chinês, que valoriza rastreabilidade, apresentação e experiência sensorial?

Da crise à expansão, o café brasileiro reencontra seu caminho global

O aumento tarifário dos Estados Unidos parecia uma ameaça intransponível, mas acabou abrindo as portas para uma nova realidade comercial promissora: a expansão massiva para o mercado chinês.

Com 183 empresas liberadas para exportar por cinco anos, o Brasil pode não apenas compensar as perdas nos EUA, mas também conquistar um público crescente, curioso e disposto a pagar por qualidade.

Como ensinou Sun Tzu:

“Toda crise traz dentro de si a semente da oportunidade.”

Cabe agora ao setor cafeeiro brasileiro plantar essa semente com estratégia, inovação e posicionamento internacional.

Autor

  • david dias

    Apaixonado por café e entusiasta do universo dos grãos, David Dias é especialista em explorar sabores, métodos de preparo e curiosidades sobre a bebida mais amada do mundo. Com anos de experiência no mercado de cafés especiais, compartilha dicas práticas e informações valiosas para transformar sua experiência com o café. Acredita que cada xícara tem uma história e está aqui para ajudar você a descobrir a sua.

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