Sim, já é possível tomar café, sem usar um único grão. Em 2025, startups como a Atomo e Northern Wonder lançaram versões de “café” que usam ingredientes como sementes de tâmara, proteína de ervilha e extrato de girassol para simular sabor, aroma e aparência da bebida original.
Essa inovação não só promete reduzir o desmatamento, como pode se tornar uma alternativa mais barata frente aos altos preços internacionais do café. Segundo o WWF, o cultivo de café está entre as 6 maiores causas de desmatamento global.
Com a demanda em alta e o impacto climático forçando plantações para altitudes elevadas, alternativas sustentáveis como essas estão ganhando tração, inclusive com respaldo de cafeterias nos EUA e supermercados na Europa.
Mas será que o sabor convence? Será que o consumidor está pronto para trocar a tradição por tecnologia?
Ao longo deste artigo, você vai descobrir o que está por trás dessa nova geração de cafés, quais empresas estão liderando o movimento e se a bebida sem grãos realmente entrega uma experiência sensorial comparável ao café tradicional.
O que é o café sem grãos e por que ele foi criado
O chamado “grain-free coffee” ou café sem grãos não utiliza grãos de café em sua composição. Em vez disso, é feito a partir de ingredientes como:
- Sementes de tâmara
- Extrato de girassol
- Proteína de ervilha
- Painço, chicória e grão-de-bico
- Aromas naturais e cafeína extraída de outras fontes
O principal objetivo? Reduzir o impacto ambiental do cultivo de café tradicional, especialmente em países tropicais onde há desmatamento para expansão agrícola.

Você sabia?
O café é responsável por até 6% do desmatamento global, segundo relatório de 2024 do World Resources Institute.
3 empresas que estão liderando o movimento do café alternativo
1. Atomo (EUA)
Fundada em 2019 em Seattle, a Atomo já comercializa o produto em mais de 70 cafeterias americanas e online. Sua mistura de ingredientes vegetais simula cor, aroma e até a cafeína do café tradicional.
2. Northern Wonder (Holanda)
Usa tremoço, cevada maltada e chicória como base. Está presente em supermercados da Holanda e Suíça e segue em fase avançada de desenvolvimento.
3. Minus e Prefer (Singapura/SF)
Ambas apostam em tecnologia para imitar a experiência sensorial completa do café, com resultados promissores, embora ainda limitados em escala.
Insight: O café sem grãos ainda está em fase de aprimoramento, mas já alcançou o varejo tradicional em diversos países.
O gosto é realmente parecido com o café tradicional?
Aqui está o ponto mais delicado. Embora as marcas afirmem que o sabor é similar ao café tradicional, degustações independentes relatam:
- Aroma próximo, mas ainda “artificial” em algumas versões
- Corpo semelhante ao de cafés filtrados leves
- Notas terrosas e achocolatadas, mas com ausência de acidez característica

Segundo Niels Haak, da Conservation International, ainda falta “a alma do café” nessas bebidas, aquela conexão emocional com regiões como Etiópia, Colômbia e Brasil.
Reflexão para o leitor:
Você abriria mão do aroma do café que te lembra sua infância, por uma bebida mais sustentável?
O impacto social e ambiental: solução ou paliativo?
O cultivo do café gera sustento para mais de 125 milhões de pessoas no mundo, segundo a OIC. E isso levanta um dilema: se o café tradicional for substituído, o que acontecerá com os pequenos produtores?
Há dois cenários possíveis:
- Migração para cultivos sustentáveis, como frutas nativas ou agroflorestas
- Risco de migração para cultivos ilícitos, como a coca, em regiões vulneráveis
Portanto, o café sem grãos não é uma bala de prata. Mas pode ser parte de uma solução mais ampla que envolve também práticas regenerativas na cafeicultura tradicional.
Café de laboratório: o futuro está em cultura de células?
Além do café vegetal, startups como Foodbrewer e California Cultured trabalham com cultura celular: a criação de células de café em laboratório.
Essa abordagem pode entregar um produto ainda mais próximo do café original, mas enfrenta desafios:
- Altos custos de produção
- Regulamentações rigorosas
- Tempo longo de aprovação

Declaração surpreendente:
O café de laboratório pode ser mais autêntico do que o café sem grãos, mas talvez nunca chegue às prateleiras por questões econômicas.
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O café do futuro tem gosto de inovação mas ainda não substitui o passado
O café sem grãos é uma solução inovadora, ambientalmente promissora e já presente no mercado. Ele pode ser uma alternativa viável para atender a demanda crescente sem agravar o desmatamento, mas ainda não substitui a experiência sensorial e cultural do café tradicional.
A jornada para um café mais sustentável está apenas começando e talvez, no futuro, tenhamos cafés híbridos que combinem tradição e tecnologia.
O sabor real do café sem grãos? Ainda está em evolução. Mas a conversa em torno dele já começou a mudar tudo.