Uma tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos ao café brasileiro poderá encarecer diretamente o produto nos supermercados norte-americanos, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
O país responde por aproximadamente um terço do café consumido nos EUA, e qualquer impacto nos custos logísticos ou fiscais tende a ser repassado ao consumidor final.
De acordo com Marcos Matos, diretor-geral da entidade, a medida compromete não apenas o fluxo de exportações, mas também a previsibilidade de mercado entre os dois maiores polos comerciais do setor: o maior produtor do mundo (Brasil) e o maior consumidor global (EUA). “Quem será penalizado será o consumidor americano”, afirma Matos, com base em análises técnicas do setor exportador.
Ao longo deste conteúdo, você vai entender por que essa tarifa é um risco real para ambos os lados, os impactos previstos na cadeia produtiva e as estratégias em curso para tentar reverter a decisão no cenário internacional.

O que está em jogo: entenda o impacto da tarifa de 50%
A tarifa de 50% anunciada pelo então presidente norte-americano Donald Trump contra produtos brasileiros inclui o café, produto que representa mais de 8 milhões de sacas exportadas aos EUA em 2024.
Por que isso importa? Porque esse volume corresponde a cerca de 34% do que os EUA consomem anualmente, e o Brasil é o único fornecedor com essa capacidade de entrega consistente, competitiva e com rastreabilidade reconhecida.
O que antes era uma vantagem frente a concorrentes, como Vietnã (também tarifado em 2024), agora se transforma em um obstáculo logístico e financeiro. Exportadores apontam que não será economicamente viável manter os embarques aos EUA com um imposto tão elevado, o que pode gerar um efeito dominó no mercado global.
A medida não afeta apenas o Brasil. Ela repercute diretamente na cadeia de suprimento norte-americana, que poderá ter menos oferta e preços inflacionados.
Como o setor cafeeiro brasileiro está reagindo
Diante da notícia, o Cecafé intensificou as negociações com entidades norte-americanas como a Associação Nacional do Café dos EUA (NCA). O objetivo é incluir o café brasileiro em uma lista de exceções isentas de tarifa, estratégia que vem sendo trabalhada nos bastidores desde a primeira rodada de sanções, quando foi imposta uma taxa de 10%.
Segundo Matos, as tratativas estão baseadas em uma “agenda positiva” de cooperação e previsibilidade de mercado, e contam com apoio técnico e institucional. A expectativa é que haja revisão do posicionamento por parte das autoridades americanas, dado que a medida também prejudica o varejo e os consumidores locais.
Você acha justo pagar mais por um produto que sempre teve preço estável e ampla oferta? Essa é a pergunta que a indústria quer fazer chegar aos ouvidos do consumidor norte-americano.

O avanço do Brasil no mercado mundial e o risco de retrocesso
Em 2024, o Brasil exportou mais de 50 milhões de sacas de 60 kg, um marco histórico nunca antes alcançado. O desempenho superou em larga escala os embarques dos principais concorrentes asiáticos, consolidando o país como líder absoluto em volume e qualidade.
Apenas para os EUA, foram embarcadas 8,13 milhões de sacas, uma alta de 34% em relação a 2023. Esse crescimento se deu graças a investimentos em infraestrutura, rastreabilidade e diferenciação sensorial, fatores que elevaram o valor agregado do produto nacional.
Agora, com a nova tarifa, esse avanço pode regredir. Exportadores já indicam que não há margem para absorver o impacto de um imposto tão elevado sem reajustar preços ou redirecionar a produção para outros mercados, o que levaria os EUA a buscar alternativas menos estáveis e de qualidade inferior.
O imposto pode romper uma parceria consolidada e gerar insegurança num dos fluxos comerciais mais antigos do agronegócio brasileiro.
Quem perde com a tarifa: o consumidor norte-americano
Embora a medida tenha sido aplicada como retaliação política, os efeitos reais serão sentidos no carrinho de compras dos americanos. O café é um dos produtos mais consumidos nos Estados Unidos, e a escassez ou encarecimento imediato terá forte impacto popular.
“O consumidor final é quem paga essa conta”, afirma Matos, ao ressaltar que a cadeia do café é longa, e qualquer distorção nos custos acaba refletindo no preço da gôndola. Supermercados, cafeterias e redes de varejo terão que rever contratos ou buscar outros fornecedores, nem sempre com a mesma qualidade ou regularidade.
Além disso, há risco de queda no consumo interno nos EUA, o que afeta não apenas exportadores, mas também torradores, distribuidores e até empregos em solo norte-americano. Uma sanção que, na prática, atinge os dois lados do comércio.
Como um imposto de 50% afeta desde o agricultor em Minas Gerais até o barista em Nova York? A cadeia do café é mais interligada do que parece.
Quem vai pagar o preço dessa decisão?
A imposição de tarifas elevadas sobre o café brasileiro nos EUA representa um retrocesso em termos comerciais, diplomáticos e econômicos. Se o objetivo era proteger o mercado local, o resultado pode ser o oposto: escassez, aumento de preços e rupturas na cadeia de fornecimento.
O Brasil mostrou ao longo das últimas décadas sua capacidade de fornecer café com qualidade, regularidade e sustentabilidade. Romper esse fluxo com medidas punitivas não atende aos interesses de quem mais importa: o consumidor.
Quando o bom senso sai da mesa, o amargo pode ir além da xícara.